A jovem não estava bem. Mas, não queria falar, sobre o que lhe
ia na alma, e eu respeitava o seu silêncio, o baixar da cabeça
sempre que lhe falava, as hesitações no diálogo...
-
O que tens?
-
Não tenho nada - respondia, invariavelmente.
Por
que sofreria daquela maneira? Parecia ausente, a anos luz do sítio
onde estava, como se uma força superior a encaminhasse para dentro
de si e lhe fechasse todas as portas.
Estaria
enamorada? Podia ser uma paixão de adolescente, por algum colega da
escola ou outro rapaz.
Era
muito bonita, com uns olhos salientes e um olhar penetrante, de uma beleza que a
mim me parecia não ser igual à das outras meninas, aliás, todas são
mais ou menos distintas; nunca tinha estado em sítio, onde com
tão pouca gente, trinta ou quarenta, a diversidade étnica fosse tão evidente.
Um
dia perguntei-lhe:
- Tens irmãos?
- Não tenho da parte da mãe,
morreram. Só tenho da parte do pai.
Não fiz qualquer comentário. Passadas semanas, quando a relação comigo era maior, disse-me:
- Já não
tenho mãe, a minha mãe morreu.
Baixou a cabeça. O silêncio tornou-se ensurdecedor. Por que me tinha falado apenas dos
irmãos? Talvez, porque só perguntei por eles. Ou, talvez, pela
impossibilidade de falar da morte da mãe, tal era o sofrimento.
Pensamos que
tudo é banal, que tudo é passageiro; mas percebi, e cada vez com
maior clareza, que assim não é.
Por mais que o mal aconteça a todos
e se generalize, deixa marcas e muitas. Virá esta jovem a ter apoio psicológico que visivelmente precisa? Não sei, temo que não, estamos tão longe das sociedades organizadas que conhecemos na Europa que falar num sistema de saúde em Moçambique é uma quimera.
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