Encontrei-o,
ao final da manhã, na marginal de Maputo, junto ao cais, onde se
apanha o barco para Catembe. Segurava, numa das mãos, um conjunto de
telas e tentava vender-me uma (ou as que pudesse, claro está).
Diz-me: "Olá, senhora, veja as minhas pinturas, sou eu que
pinto, sou um artista"!
"Sim,
mas agora não tenho tempo, não quero comprar, não quero". E
continuo, apressando o passo.
-"Fico
à sua espera, quero mostrar-lhe o meu trabalho" - diz-me.
E
ficou. Primeiro, era só para que eu visse as telas, mas depois usou
todos os argumentos e mais um, insistindo sempre, mas sem ser, em
nenhum momento, desrespeitoso ou incomodativo, pelo contrário, havia
nos olhos daquele jovem uma bondade que me chegava, e depois era
encantador a forma como falava da sua vida e da sua sensibilidade de
artista. Estava convencida que era um artista, na assinatura lá
estavam as iniciais do seu nome.
Escolhi
uma das telas, e comprei-a. "Vou fazer um quadro e, quando o
olhar, pensarei: onde estará o Paulo, o jovem artista moçambicano
que, num dia de Novembro de 2010, encontrei na marginal de Maputo?
Talvez, seja agora um artista famoso, espero que sim" - digo-lhe.
No
dia seguinte, quebrou-se a magia, enquanto passeava pela baixa da
cidade encontrei muitos “Paulos”, jovens (todos artistas) que
vendem telas, todas iguais, usando exactamente as mesmas estratégias.
Achei graça, é óbvio que para mim tanto importava. Aliás, se
voltar a encontrar o Paulo, tratá-lo-ei por artista, vou falar-lhe
de tintas e pincéis, de sentimentos e paisagens africanas, como no
dia do nosso primeiro encontro. Ele pode não ser artista, mas
carrega uma alma de artista. E isso é o que importa.
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