É
uma menina de catorze ou quinze anos. Corpo de adolescente, alta,
magra, cabelo muito curtinho. O andar um pouco desajeitado, sempre de
telemóvel na mão, um pouco agitada e com um olhar triste. Está no
colégio há menos de um ano. Veio, porque a tia achava que ela só
brincava – diz-me. Veio para estudar, passou para a 6ª classe, mas
com dificuldades enormes de leitura e escrita.
Talvez, tenha vindo
para não se perder numa qualquer estrada ou esquina da vida. Veio,
porque precisava sair de um ambiente que não podia ajudá-la. Isso é
certo. Temendo que seja órfã e não sabendo até que ponto quer ou
não falar sobre isso, nada pergunto, espero que fale, o máximo a
que me atrevo é perguntar-lhe:
- Quantos irmãos tens?
- Tenho dois irmãos, eu sou a mais velha, eles são mais novos,
vivia com a minha avó, os meus irmãos estão com os pais deles. A
minha mãe morreu, o meu pai morreu, o meu avô morreu...
Sinto um
calafrio, até onde irá a lista que parece interminável?
Fico
em silêncio. O que sei eu? Imediatamente, pensamos que foi a sida
que os levou, mas talvez tenham morrido de malária, de desastre
rodoviário ou de outra qualquer doença.
A causa da morte não é
indiferente, por estes lados, há um estigma, um não dito, que
acompanha a vida destas crianças, cujos pais morreram de sida, como
se, por não se nomear, tal doença desaparecesse. Ela carrega um
grande sofrimento, mas não um destino. Por isso, está aqui. Vai
estudar e ser alguém na vida.
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