Falo com uma jovem de dezassete anos que me fala dos casamentos prematuros, do que se passa na sua
aldeia e nas aldeias do distrito de Massinga, na província de Gaza.
- Meninas de treze, catorze anos, são obrigadas a casar, com quem ofereça o maior dote; um dote que pode chegar às dezasseis cabeças de gado.
- É estranho ouvir isto, digo-lhe.
- Mas é assim. Um pai que tem uma filha está já à espera que a menina cresça para poder vendê-la, sim, que mais não é do que uma venda. A criança é
dada em casamento a quem pode pagar mais por ela, seja novo ou velho,
pode ser da idade dos pais ou até dos avós.
Oiço
e penso na dura realidade destas meninas, na desdita que costumes
ancestrais impõem. Na quase impossibilidade de sair disto, de como a
modernidade está a anos luz, mesmo que haja traços exteriores,
como a T-shirt, os jeans, a mochila…, duma modernidade globalizada
que parece chegar a todo o lado, mas que, afinal, não.
Há redutos culturais impenetráveis. Já não julgávamos isto possível.
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