quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Índico

Olho infinitamente o mar da praia do Tofo. O mar do Índico, vasto, enigmático, desconhecido, como todos os mares.  A água é de uma limpidez inigualável  e de um azul multicolor, ora carregado, ora mais claro, mas sempre dourada, debaixo de um sol que torna tudo luminoso. Uns miúdos aproximam-se,vendem pulseiras feitas de conchas e missangas aos poucos turistas que há.
"Vinte meticais". "Quinze e compro-vos duas, uma  a cada" .  Hesitam.  "Vamos voltar cá", dizem-me. Voltarão, claro. mas, enquanto se afastam-se eu fico a pensar: por que estou eu a regatear preços (menos de um euro)?  Sinto vergonha.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Rostos

Falo de pessoas que conheci, com quem troquei breves palavras ou conversas mais demoradas. Falo de pessoas reais, com vidas e sentimentos reais, vivendo uma realidade dura, difícil, muitas vezes, tocando vários limites, como o da sobrevivência mais absoluta ou o da luta contra a SIDA ou outras doenças que, em muitos casos, não deixam qualquer margem à esperança. Nenhum nome é real, não era necessário que o fosse, ou não existem ou são fictícios.
São encontros no sentido de Lévinas – o face a face com o outro – alguém que me convocou a caminhar na sua direcção e de quem me aproximei com total abertura e disponibilidade. Um encontro sem perguntas prévias, sem roteiro definido, sem objectivos para alcançar, esperando que cada um me falasse do que entendesse.
Com ou sem palavras, sabia que todos teriam algo a dizer. Sabia que aconteceria comunicação, sem necessidade de entrar na sua alma, sem necessidade de lhes perscrutar o íntimo.
Estava ali, ocupando o segundo plano, deixando-me conduzir, interrogar…, procurando responder aos apelos que cada uma me quisesse dirigir. Quis que cada encontro fosse uma revelação, tornado presente no rosto de quem tenho em frente. O que diz o rosto vem de um não lugar, de uma transcendência, de que só ele sabe e de que só ele pode falar.
 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Moçambique

Estive durante todo o mês de Novembro de 2010 em Moçambique, a maior parte do tempo fazendo uma experiência de voluntariado no Instituto São José de Inhambane,  uma escola secundária com cerca de quatro mil alunos e um internato de meninas, cerca de cem, dos onze, doze aos dezassete, dezoito anos.  
Era uma experiência que eu queria fazer há algum tempo. Aqui escreverei  sobre aspectos que  considero marcantes, do ponto de vista humano.